quarta-feira, 22 de agosto de 2012

I know you never meant to but you did.

Costumava vê-la assim de longe, como se fosse apenas uma miragem. 

Na maioria das vezes ela nem se apercebia que a estava a observar e lá continuava no seu dia-a-dia mais que atarefado, sem ter nada que justificar a ninguém, e ainda menos que explicar a quem quer que fosse, sobre o que eu via que ela ia fazendo, aqui e ali, com este ou com aquela. 

Assim de longe e se eu fosse uma pessoa romântica, diria que quase parecia uma flor em plena Primavera, quando o pior do Inverno já passou. Com uma cor bonita, umas pétalas que transpiravam saúde, sempre virada de encontro ao sol, com suspiros profundos e a viver todos os segundos que lhe eram oferecidos, como se a recuperar o tempo perdido. Sim, sobretudo, vivia. Ou ia vivendo, agora já não sei muito bem.

Nunca me aproximei, não queria assustá-la, mas muito de vez em quando, ia mais perto para tentar perceber como tudo se processava. Há que tempos que descobri que as aparências tendem a enganar muito, portanto agora já tento arriscar menos nisto de dizer seja o que for sobre qualquer assunto, sem ter a certeza de nada.

Mas das últimas vezes que me aproximei, algo tinha mudado. A cor parecia ainda mais viva, os suspiros cada vez mais frequentes e longos, o tempo em repouso cada vez mais escasso. E pensei que não seria possível que tanta energia boa e positiva pudesse emanar de uma só pessoa. Esperei e depois tentei perceber. E não me tinha enganado. Acho que se enganou ela por mim. E quanto mais me aproximava, melhor entendia que a cor não era que fosse bonita, era apenas diferente da cor de antes e da cor dos demais. As pétalas não transpiravam saúde, mas sim lágrimas por tudo o que queria ter e não podia. E também suor. Suor pelo calor que sentia por estar sempre virada para o sol, tentando encontrar uma justificação plausível para o sufoco que trazia no peito. Os suspiros eram mais longos, mas apenas porque o ar parecia faltar-lhe cada vez mais. E não vivia, não, arrastava-se pelos dias, ocupando o tempo aqui e ali, com esta ou com aquele, sorrindo sempre, como se o mundo fosse o seu circo e ela a palhaça, dando o seu melhor para que ninguém pudesse perceber que naquele momento, de tanto caminhar descalça, já tinha os pés em ferida.

Não soube que fazer e hesitei. Deveria chamá-la? Dar-lhe a mão? Perguntar-lhe que podia fazer por ela? Oferecer a minha ajuda? Abraçá-la? Não sei. Como se abraça uma pessoa que está tão longe de nós? Como se abraça quem acha que já não tem nada a perder? Como se abraça quem acha que não merece nem o ar que respira? Como se ama uma pessoa que já há muito que deixou de acreditar em si própria?

Esperei mais um bocadinho, assim de longe, a observá-la. Acabei por virar as costas e ir à minha vida. Afinal, se todos já o tinham feito, por que não podia eu fazê-lo também? Pensei por momentos que ia deixá-la magoada. Mas encolhi os ombros. De certeza que, afinal, ela ia acabar por entender.

1 comentário:

Papoila e Orquídea disse...

I think I get it.

Gostei muito de ter este post.